Sujar-se

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É muito importante que as crianças vivam a infância na sua plenitude, com tudo o que isso implica, nomeadamente com as nódoas negras e os arranhões, no corpo e na roupa, como troféus de dias intensamente experienciados.

É comum encontrarmos pais que evitam ao máximo que os filhos se sujem, mas afinal de contas as bactérias e vírus estão por todo o lado e todos os esforços destinados a criar ambientes totalmente asséticos para os proteger vão acabar por revelar-se infrutíferos.

A exposição a micróbios é necessária para o desenvolvimento de um sistema imunitário saudável e equilibrado e as crianças aprendem vivendo, aprendem a experimentar por tentativa e erro, aprendem a brincar no jardim, a mexer nos bichinhos, a andar descalços à chuva, a trepar as árvores, a fazer bolinhos de areia, a pintar com os dedos,...

Ao explorar com liberdade desenvolvem a iniciativa e a criatividade e experimentam sensações que lhes permitem extravasar a realidade e ampliar os seus conhecimentos.

Na teoria compreendemos isto muito bem mas no dia a dia lá vamos dizendo:

  • não ponhas as mãos com terra na boca
  • cuidado com o vestido, não te quero suja
  • não mexas no que está no chão que não sabemos onde andou

Nestes casos, é comum ver os pais de sabonete em punho mal as crianças entram em casa e toca de reclamar com tanta sujidade… Em resultado disto, as crianças acabam por interiorizar que a experiência e que a sujidade não é valorizada ou aceite o que pode ter impactos negativos ou até perniciosos no seu desenvolvimento.

Ora vejamos:

Quando a criança tem a preocupação em manter-se sempre limpa poderá estar a perder oportunidades de aprendizagem, retraindo-se na exploração e na interação.

É normal que se retraia nas brincadeiras no exterior com medo de não corresponder ás expectativas de limpeza, assim como é comum que se sinta insegura quando tem que se sujar na escola para, por exemplo, pintar com os dedos...

E é também normal que a excessiva preocupação com a sujidade tenha efeitos secundários na aquisição de novas competências relacionadas por exemplo com a autonomia... comer a sopa sozinho e deixar cair umas gotas na camisola é uma tempestade!...afinal de contas interessa é manter a limpeza!

Como pais, ao fazê-lo, é esse o referencial que estamos a transmitir e esse referencial, de certa forma, é uma antítese da natureza do ser criança... O poder de se sujar é por si só a atividade livre, não direcionada, é explorar com o próprio corpo.. é ser criança.

A sujidade pode e deve ser vista como o mapa das aventuras vividas... e quanto mais cores e texturas tiver mais rica terá certamente sido a experiência vivida.

Cada vez que eles regressam a casa com nódoas sabemos que vêm também carregados de experiências únicas e por isso devemos estar preocupados em co-construir com eles estas experiências, reforçando as explorações e as aventuras, temperadas de boa disposição e com doses salutares de sujidade!

Texto adaptado a partir de Programa "Crescer com Eles”, parceria Colégio Efanor/Rádio Nova (coordenação: Ana Barbosa, Psicóloga Col. Efanor e Isabel Corte-Real, Educadora Col. Efanor)