"Isso é injusto!"

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"Isso é injusto!” será com certeza uma das expressões mais arremessadas por crianças e adolescentes nas suas disputas com os adultos, principalmente em questões relacionadas com irmãos ou pares. E, quer se queira quer não, também parece ser das que maior impacto tem nos pais e nas mães, seja porque têm memórias de injustiças na sua infância  ou porque na sua demanda parental querem realmente ser sentidos e percebidos como justos. Mas o que será realmente isto de ser justo? E será que lhes estamos a ensinar conscientemente o que é justiça.

 

Enquanto pais, é comum ouvirmos crianças e adolescentes reclamar contra as injustiças que os crescidos cometem para com elas. E cometeremos com certeza algumas senão muitas, mas serão aquelas de que nos acusam?

 

Se estivermos bem atentos, percebemos que habitualmente a mais básica utilização de ‘justo’ está muito associada ao ‘poder fazer ou ter o que eu quero, quando quero’, logo leia-se ‘injusto’ como ‘estás a ser um obstáculo à minha vontade’. - "Mandas-me sempre pôr a mesa quando está a dar os bonecos de que gosto! Isso não é justo!”

 

Ora, como sabemos, os pais e os educadores em geral se não estiverem a ser ‘injustos’ e ‘chatos’ (como eles dizem), sempre que o supremo interesse da criança assim o exija, não estarão a desempenhar bem o seu papel, pois se achássemos que as crianças sabem o que é melhor para si, tendo em conta não só o agora mas também o futuro, poderíamos abdicar já deste emprego 24 sobre 24 que é ajudá-los a crescer. Nestes casos, portanto, ouvir ‘és injusto‘ deve ser sentido como uma espécie de condecoração por serviços parentais prestados, embora eventualmente só venha a ter o reconhecimento deles muito mais tarde.    

 

 Esta utilização de ‘injustiça’ ligada ao funcionamento egocêntrico vai evoluindo da básica frustração perante a contrariedade, para a dificuldade de perceber que a noção de justiça numa situação que envolva várias pessoas frequentemente depende da perspetiva, e será uma lição demorada de compreender. E cá estamos nós adultos para, com serenidade e paciência, ensinar, situação a situação, que é importante aprender a ouvir os outros, para se tentar perceber as suas visões.

 

O último grande equívoco é a confusão entre justiça e tratamento igual, ou seja se estamos perante duas crianças, temos de as tratar exatamente da mesma maneira, para que nenhuma se sinta discriminada. Isto pode ir desde o ‘ porque é que estás mais tempo com ele a fazer os TPC’s do que comigo’ à tirana do "Se gastaste dinheiro com o aparelho dos dentes dele, também podes gastar o mesmo comigo no telemóvel que eu quero”.

 

Ora esta pode bem ser a pior discriminação de todas por não estarmos a atender às características e necessidades específicas de cada criança de forma a que ambas tenham, isso sim, igualdade de oportunidades. E este é um valor que os adultos deverão ter bem presente para ajudarem as crianças a compreender e aceitar uma justiça diferenciada em prol de maior igualdade. -”passo mais tempo nos TPC’s com o teu irmão porque ele está agora com mais dificuldades, mas também estava mais tempo contigo à hora de deitar na altura em que tinhas aqueles medos”. 

 

É importante que as crianças e os adolescentes aprendam com a nossa firmeza e segurança que somos todos diferentes, em características, na idade, nos momentos, e portanto, fará sentido prendas para todos quando nasce ou no aniversário de uma criança? ou devemos ensinar a observar, respeitar e ficar contente também pelo momento do outro? Devemos com os nossos atos educá-los para a justiça de umbigo e salomónica ou para a justiça comunitária de acordo com as necessidades de cada um? 

O caminho pode ser longo e difícil, mas valerá a pena numa ótica de longo prazo!

 

Pense nisso e nunca desista!