A ditadura do contrarrelógio

Colégio Efanor Colégio Efanor
Nas sociedades modernas há um mal comum que nos aflige a todos e a todas, a falta de tempo! Temos rotinas muito preenchidas, horários apertados a gerir e a sensação de que se está sempre a correr para cumprir com prazos. Pelo contrário para as e os filhos, e mais acentuadamente quando são ainda crianças, a dimensão tempo parece mais elástica, não há urgências, agem como se o tempo lhes fosse infinito. Este contraste tão grande entre adultos e crianças na experiência do tempo é das matérias que mais conflitos e aborrecimentos traz entre as figuras parentais e os filhos.  

Nas palavras quer de economistas quer das nossas pessoas mais sábias pela experiência, o tempo é dos bens mais importantes e valiosos que temos no mundo, porque é o mais escasso e aquele que é irrepetível e que nos foge...

No ano passado saíram os mais recentes resultados relativos à forma como mulheres e homens em Portugal fazem uso do tempo e vemos confirmadas as piores expectativas... andamos todas e todos em contrarrelógio, com pressa, com horários de emprego complicados, muito tempo em percursos casa/trabalho, e gasto nos trabalhos de cuidar de filhos ou de pais dependentes, a tratar das tarefas da casa, a aceder aos serviços de que necessitamos... e ter tempo para sermos e fazermos algo por nós, para usufruirmos das pessoas de quem gostamos parece ser um luxo. Isto tem claras implicações negativas quer para a saúde, para a qualidade das relações e até mesmo para a nossa produtividade. E, surpreendentemente para o século XXI, as mulheres continuam em clara desvantagem porque fazem jornadas de trabalho muito mais longas, uma vez que para além de empregos acumulam mais tempo destes trabalhos não pagos... 

Portanto, os adultos funcionam numa lógica de ditadura de contrarrelógio e as crianças, em particular as mais pequenas, para além de terem ritmos mais lentos, nem sabem o que é o tempo... por isso quando se ouvem pais e mães a dizer coisas como "-Despacha-te estou atrasada! Só tens 10m para te vestir! Daqui a 1hora tenho uma reunião”-, a única coisa que as crianças percebem é que os adultos estão a ficar zangados... mas esta irritabilidade, em vez de os apressar, frequentemente faz com que fiquem mais lentos ou até parem. E aí ouve-se "-Parece que estás a gozar comigo, eu digo que estou atrasada e ainda fazes mais devagar”... Pois mas neste caso as crianças só estão a manifestar sinais de desconforto, ansiedade e irritabilidade, em resposta ao stress dos adultos. E é este o cenário mais comum: adultos com pressa, irritados, a apressar as crianças de manhã à noite, e também elas a crescer ansiosas e irritadas.

Ora não há receitas mágicas para contrariar isto, até porque muitas das questões horárias não dependem das pessoas.

Mas há algumas coisas que podem ajudar:

-Primeiro o equilíbrio familiar no uso do tempo, sempre que se trate de um casal, numa lógica de 2 a ganhar e 2 a cuidar, para custar menos a cada um. E na divisão das tarefas os mais pequenos devem contribuir, pois só com a prática se começa a fazer bem e rápido (isto é válido para homens e crianças). 

-É importante, principalmente as mulheres, não serem tão exigentes com a maneira como as coisas são feitas ou quando são feitas. Devemos priorizar tempos para estar com e em família, no mimo, a relaxar no chão no meio das almofadas desarrumadas a rir e a viver estes momentos únicos

-Não acordar as crianças à última da hora, para não terem de andar a correr. Acordar mais cedo e andar mais devagar de manhã, com música e sorrisos 

-Usar as viagens para levar e trazer as crianças da escola de forma divertida para todos.   

-E quando queremos que as crianças tenham noção de tempo, usar uma ampulheta, um temporizador de cozinha, um cronometro e fazer jogos – vamos ver se consegues vestir-te rápido, no tempo de 1 ampulheta, e se amanhã és mais rápida.

Sabemos que pode ser um exercício inicialmente difícil, o tempo não estica! Mas dividir o trabalho, controlar a irritabilidade do relógio e preencher o tempo de sorrisos com as nossas crianças, sem estar a pensar nos afazeres, dá-nos anos de vida!

 

 

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